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Time, The Ultimate Truth Teller - Sana Dawn Thomas
88

The Line Of Best Fit

88

“Time, The Ultimate Truth Teller” é o segundo álbum de estúdio da cantora e compositora Sana Dawn Thomas. Disposta a apresentar um trabalho objetivamente mais maduro após seu debut em “Cliché”, aqui, a proposta é mergulhar na experiência adquirida pela artista entre tais respectivas eras, por meio de suas visões de mundo sobre autoestima e romances. A parte lírica se inicia com “Kiss with a Fist”, faixa introdutória que descreve as idas e vindas de um relacionamento obviamente tóxico e do qual a cantora, enfim, se livra nas linhas finais de seu verso catártico; é uma introdução notória pela linearidade de sua narrativa e pela potência sentimental que exibe. “The First Cut is the Deepest” é a segunda faixa do álbum; em parceria com Sarah Mai num dos singles mais bem-sucedidos da era em retrospecto, Sana parece zerar a narrativa ao mesmo tempo que a procede da faixa intro, ao descrever as sensações do começo ao fim dos relacionamentos que mais deixaram cicatrizes emocionais nela e em sua parceira de faixa. Enquanto Sana oferece um ponto de vista mais melancólico, Sarah Mai traz o teor mais dramático da lírica, e ambas se complementam em uma canção muito bem polida. Em “DeLorean DMC-12”, Sana oferece sua visão sobre relacionamentos pela perspectiva de uma história curiosa: a de como sua obsessão pelo primeiro carro que possuiu na vida conseguia ser comparável aos seus relacionamentos no modo como ambos a destruíram, mas que apenas uma dessas opções parecia valer mais a pena para ela - e era o próprio carro. É uma faixa divertida não só em sua premissa como também nas entrelinhas de sua execução, apesar dos versos de seu refrão estenderem demais seu tempo de permanência. “Lie, Cheat and Steal”, por sua vez, possui créditos de co-composição entre Sana e Tessa Reimels; aqui, a cantora principal se vê assumindo um papel quase satírico de si mesma enquanto uma mulher na busca do relacionamento perfeito para si mesmo, ainda que seja destrutivo para ambas as partes, em nome de uma adrenalina que ela quer sentir. É uma canção que mantém o nível intrigante do álbum até o momento. A faixa número 5, “Mistresses”, é uma colaboração com Oliver Foster, e liricamente parece seguir a narrativa deixada por “Lie, Cheat and Steal”, onde a adrenalina agora persegue os artistas principais da canção em um relacionamento que começou de forma ilícita, mas parece ser prazeroso demais para ser parado momentos depois. A estrutura da composição é curiosa, com Sana e Oliver trocando versos entre si e complementando suas partes da narrativa de uma ótima maneira. “Picture on the Wall” lida com as saudades sentidas pela cantora de um amor antigo que não tem mais chances de retorno; a artista deixa o conteúdo narrativo ambíguo em certos momentos, o que torna a faixa fácil de ser identificada nos corações do público, mas é evasiva em outros instantes, não sabendo bem equilibrar a força dos versos dessa maneira. A interlude “Traveling in Time” mostra Sana refletiva sobre seu passado e sobre a quantidade de tempo desde a época em que ela acreditava ser capaz de tudo; é curta, mas eficiente em sua mensagem, deixando ainda a possibilidade de ter sido expandida em seu lançamento original para uma melhor compreensão. Em “Time Machine”, Sana Dawn Thomas lamenta a perda por desaparecimento de seu pai, e utiliza-se de uma linguagem mais universal para falar sobre os sentimentos conflitantes que possui acerca do tempo que não volta mais para ela reparar tudo o que vinha acontecendo com sua pessoa amada antes de ela ir embora. É uma faixa dramaticamente bela em sua composição e uma das mais vulneráveis do disco. “Lies My Mother Told Me”, por sua vez, serve novamente como uma continuação da canção apresentada logo antes, onde Sana discute o destino de sua família após a perda do patriarca e o modo como tudo foi lentamente sendo desfeito até chegar na sua vez de formar uma nova família, onde ela percebe que tem repetido as mesmas ações por ser tudo o que ela aprendeu em sua vida. A canção é fortemente enraizada no estilo country em sua estrutura e em seus temas, sendo essencial dentro do amadurecimento da artista. Em “Crack”, Sana une forças a LASHAE na canção mais emocionalmente profunda do disco até aqui; as cantoras lamentam possíveis fins de suas próprias vidas para diferentes formas de suicídio, e o modo restrito com o qual se expressam é apenas o suficiente para impactar o ouvinte. “Red Lipstick” discute a relação de Sana Dawn Thomas consigo mesma em relação aos padrões de beleza, focando em momentos onde ela não se sente tão bonita quanto as revistas e as entrevistas de TV fazem ela parece ser. É uma das faixas que mais tocam na relação da cantora também com a fama adquirida ao longo dos anos, e apesar de ser profunda, também tem seus momentos universais. “O2 Ritz Manchester” inicia uma nova fase na narrativa do álbum; a artista retorna anos na história para contar o modo como trabalhou por conta própria para atingir o sucesso que queria alcançar sendo musicista. É uma canção menos reveladora do que as anteriores e com um pouco menos de apelo universal, mas isso não prejudica sua estrutura intimista e bem polida. “Deja Vu”, penúltima faixa do CD, detalha um ciclo vicioso dentro de um relacionamento destrutivo comparável ao sentido pela artista nas primeiras faixas do próprio álbum, porém com o ponto de vista onde ela termina criando forças para sair da situação; como um single, da forma que foi lançado originalmente, a faixa brilha em sua descrição, mas dentro do álbum, ela perde um pouco de sua força pelo assunto ter sido tratado outra vezes de forma incisiva. “Too Old to Die Young” oferece um ponto de vista mais interno sobre o que todas as mudanças na vida e carreira da cantora a fizeram pensar de si mesma após o tempo necessário ter passado; possui o intuito de servir como encerramento da história, mas acaba sendo superficial no seu quesito. Visualmente, o álbum como um todo possui uma fotografia bem editada e cada página do encarte separadamente possui uma construção bela em seus granulados e em seus tons fiéis às cores da capa; apesar da montagem direta entre as páginas e o conjunto parecer ter sido feito de forma dura e sem uma suavização na finalização, ainda é um deleite para os fãs e o público geral. “Time, The Ultimate Truth Teller”, por fim, faz jus ao seu título, usando o tempo como um ótimo medidor para o processo de amadurecimento de Sana Dawn Thomas; apesar de alguns momentos enfraquecidos em sua narrativa, mais especificamente em faixas da segunda metade do disco, o projeto como um todo é de longe o mais bem estruturado da carreira da cantora e o que mais revela as imperfeições por trás de uma artista que sabe performar para a mídia enquanto mantém sua essência.

AllMusic

94

Como consequência do exitoso resultado dos seus lançamentos relacionados, Sana Dawn Thomas introduz o público a “Time, The Ultimate Truth Teller” — seu segundo álbum de estúdio. Iniciando pela junção de “Kiss With a Fist (Intro)” e “The First Cut Is The Deepest”, temos a abertura de Thomas a uma narrativa intensa: o seu primeiro amor. As faixas funcionam muito bem juntas, mas falando de modo específico da segunda citada, a parceria com Sarah Mai é delicada e profunda ao nível necessário. A marca deixada pelo primeiro amor de sua vida serve de símbolo para aprendizados imensos, e a junção das artistas produz uma faixa natural e que traz uma fluidez muito boa ao projeto. A faísca ainda está ali afinal, então todos os amores subsequentes não parecem tão intensos. “DeLorean DMC-12” faz uma inteligente alusão do carro DeLorean com um relacionamento: tudo parece perfeito e a magia é infinita, mas após um tempo as coisas se acomodam e logo mudam. A canção, entretanto, peca por ter muitas linhas que não acrescentam tanto ao que se diz, o que deixa a faixa um pouco cansativa. “Lie, Cheat and Steal”, com co-composição de Tessa Reimels, é um acerto. Aqui falando sobre tudo que Sana faria para ter o seu amado de volta, a letra caminha por usos líricos bem usuais e familiares, o que dá vez para uma composição muito bem construída. Sana deixa claro o seu empenho para ter todas as sensações de volta. “Mistresses” segue a ousadia da anterior, aqui com a participação de Oliver Foster. Tratando de uma relação entre amante e casado, a narrativa é bem alocada e ambos conseguem formar seus “lados da moeda” com excelência. “Picture on the Wall”, carro-chefe do projeto, é um fragmento bem melancólico do disco até aqui. A composição é formada por usos bem autobiográficos das suas expressões para expressar a saudade de Sana do seu companheiro, que estava longe de todos durante o período de lançamento da canção. É uma boa composição, mas sua estrutura deixa a desejar em certos momentos, como a ponte. A sequência de “Traveling In Time (Interlude)” e “Time Machine” dá início a outro momento melancólico e introspectivo; Sana se dá conta de como o tempo vem passado, e logo as lembranças do seu pai, que desapareceu há bons anos atrás, a fazem questionar e desejar construir uma máquina do tempo para poder o ver novamente e mudar o percurso do que aconteceu. A angústia da faixa é sentida intensamente, e a sua letra é poderosa e muito bem escrita. “Lies My Mother Told Me” segue em lembranças, que ressoam no seu presente e no seu futuro. A artista percebe comportamentos e pensamentos se repetindo, ciclos se criando e novos questionamentos. A estrutura de sua família criou raízes que podem afetar seus comportamentos com a construção de sua família, e isso a machuca e a faz pensar. É uma canção muito sincera e forte. “Crack” leva o ouvinte a um ambiente bem sensível, e lida com pensamentos autodestrutivos após turbulências excessivas e recorrentes na vida da artista. Em parceria com LASHAE, a canção se desenvolve nesse pessimismo e dor intensa, desejando por um fim nessa constante martirização. A faixa possui uma estrutura diferente, mais sintetizada e mais pura, o que a coloca como um destaque. “Red Lipstick” segue um reflexo da anterior, mas aqui o enfoque é a auto percepção e a autoimagem da artista; as aparências podem enganar, e ela finca essa mensagem com a sua própria experiência, principalmente quando colocava seus relacionamentos como “tapa-buracos” para a falta de autoconfiança e de amor próprio. É a canção mais pura de Sana no disco. “O2 Ritz Manchester” aborda a caminhada de Sana até o estrelato, algo comum na indústria. Mas o seu diferencial parte da sua intenção de mostrar o padrão da sociedade de largar seus sonhos para o que é mais seguro financeiramente. Como nem todos possuem a mesma “sorte”, Sana mostra que sua ambição é algo que a fez persistir e passar por duas carreiras ao mesmo tempo, se assim podemos considerar com o seu trabalho de garçonete e os constantes esforços como artista. É uma faixa que faz muito pelo projeto. “deja vu” é direta ao ponto, e Sana se coloca como prioridade em uma faixa que fala sobre uma certa dissonância num relacionamento. A artista usa de símbolos como o Ourobouro, além de algumas alegorias na sua letra. É uma faixa brilhante e que traz uma energia muito necessária no projeto. “Too Old To Die Young” finaliza o projeto com um sentimento revigorante e acalentador. Sana agora é consciente de tudo que passou e de como isso a fez crescer e se tornar uma pessoa forte, principalmente em seu valor próprio. O visual, produzido por Sana em parceria com Rubia e PRAYØR, carrega sua aura mais pessoal e introspectiva com uma edição focada na fotografia e nas nuances das cores usadas. É muito bonito e muito coeso. Então, “Time, The Ultimate Truth Teller” se posiciona como um projeto universal pela falta de medo da artista em expor suas fraquezas e seus medos. É confessional e sonhador, ao mesmo tempo que conecta todas as suas vertentes a seu caminho na indústria.

Pitchfork

81

Time, The Ultimate Truth Teller é o nome do álbum da cantora Sana Dawn Thomas, baseado nos gêneros country, rock e indie, com produção da própria mais Rubia e Prayor, composto por Thomas e LASHAE. Lançado dia 28 de Agosto de 2022, Sana abre o disco com uma intro e chega com The First Cut is The Deepest, parceria com Sarah Mai. Uma faixa claramente fraca, o conceito entrega sobre um primeiro relacionamento amoroso da artista principal, na adolescência, e como a dor do fim deste a machucou de primeira, mas os demais cortes foram fichinha. A lírica preza por algo a mais, é muito crua, simples, sem louvor e sutileza. É mais uma em meio as demais. Como numa passagem de tempo, a doçura se perde a acidez dado sumiço da ingenuidade, e Sana Dawn Thomas canta um refrão forte em Lie, Cheat and Steal. A letra conta uma história, parece que estamos ouvindo uma crônica cantada, fatos do cotidiano, com uma pitada pequena de poesia. Nesta mesma pegada, Sana musicaliza a saudade como substância da dor. Vendo fotos nas paredes, notícias na TV, lembranças de um passado corriqueiro etc. A faixa Pictures On The Wall é uma das melhores do disco por conseguir ser sentimental e reflexiva ao mesmo tempo. A canção Time Machine é um triste explosão de realidade, dor e sentimento, já que o primeiro verso exemplifica com o abrir e fechar dos olhos sobre o sopro da vida e, a partir disso, que a vida precisa continuar. O verso três é de cortar o coração, tornando a canção tão melancólica, mas ainda assim num ponto em que entendemos tudo o que está rolando por trás da história, incluindo o medo do remorso e a saudade. Definitivamente o álbum conta muitos acontecimentos vividos por Sana, e tudo isso promove quase que um estado de burnout na cantora, fato cantado em Crack, parceria com LASHAE. A melhor canção do álbum é essa, trazendo um pré-refrão destruidor e versos fechados que causam desespero a quem ouve, com índices viáveis de gatilhos. LASHAE contribui pontualmente em seu verso, como se a dor corrompe-se toda a vontade de surtar, já surtando, e conseguisse atingir o sentimento de alegria ao olhar através da rachadura, quando entra em sobriedade. Crack é agressivamente chocante. Red Lipstick torna-se a melhor canção solo deste disco, e que maestria. Ao mesmo tempo que a cantora se maltrata por ter que ser quem não é, ter que ser um padrão, por ser artista, uma pessoa pública, ela expõe a realidade da falsidade vivida pelo mundo da fama. Resumidamente, essa faixa é a definição de viver de aparências. deja vu e O2 Ritz Manchester dão o gancho para a conclusão de Too Old To Die Young. A faixa é o momento de maior consciência da artista em comparação com todas as outras, ela está plena que o que viveu fará ou fez algum sentido para a sua caminhada e que ela é muito jovem para sofrer e se render por paixões e emoções, a racionalidade grita por aqui. O nome da canção é uma brincadeira sobre a maturidade ser estabelecida já com a idade e a ingenuidade paira sob a juventude. Muito bem coloca. Final glorioso. Olhando por um todo, é possível constatar que tudo o que Sana Dawn Thomas escreveu funcionaria muito melhor como um romance ou um roteiro cinematográfico, e apesar da primeira parte do álbum não ser tão interessante quanto a segunda parte, que é sensacional, o conjunto da obra precisa existir para que o começo, meio e fim seja estabelecido. Reforça-se a força do disco a partir de Time Machine. Enquanto a produção, consegue-se ver sentido em relação a paleta que vai do esverdeado até tons de marrom, as vezes até algo rosa aparece. O verde é esperançoso e o marrom parece promover a ideia vintage do contar de uma história de vida, além de se relacionar com o country. Majoritariamente simples, a tipografia da capa é muito bonita, estética e moderna. A textura e os efeitos são leves e bem colocados. Há uma polidez e há algo cinematografia também. Por fim, Time, The Ultimate Truth Teller é o título perfeito para uma crônica assinada por Dawn Thomas, que desliza no início como um roteiro com poucos cortes, cenas cansativas e longos jogos de câmera, mas seu desenvolvimento e seu ato final surpreende e faz sentido.

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