white roses and trickery, but I'm not like her - Jade X
Los Angeles Times
Seu segundo álbum de estúdio, Jade X lançou “white roses…” como um projeto que a colocava em uma proposta diferente do seu disco anterior, mirando novos caminhos e com conceitos mais fantasiosos. Altamente inspirado em “Alice e o País das Maravilhas” e com adaptações para extrair essa inspiração, o disco inicia em “Maze trick”, uma introdução em diálogo entre Jade e Chessur e inspirado no diálogo entre Alice e o Gato de Chesire, e logo após com “As the Wonderland caves in”. Essa segunda se constrói em questões pessoais da artista aplicadas a história contada, aqui retratando situações em que pareceu confrontada pelos próprios sentimentos e por sentimentos externos, e também pela forma como ela enxergava as coisas ao seu redor. Aqui ela lida com psicoses, melancolias, devaneios e outros que tecem a imagem mais sensível do eu-lírico. É uma faixa bem escrita e com boas metáforas. “Iracebeth” fala sobre uma garota em um caminho tortuoso e visivelmente doloroso. A faixa se constrói na imagem externa e no que é observado nela, assim mostrando os detalhes com mais fidelidade. Como carro-chefe e como terceira canção do disco, ela cumpre o seu papel muito bem, com uma boa construção. “Euphemism”, a melhor do projeto até esse ponto, retrata a dependência emocional e expressa essa dor e sentimento com muita fidelidade e coesão, sem se perder em meio aos pontos abertos no disco. Ela sabe que o fim entre ela e a outra pessoa chegou, mas é difícil se desprender. “Drunk-eat me (interlude)” e “Chesire” entregam ao ouvinte um lado mais obscuro e que segue o sentido lírico já implementado, mas com esse fator incluído. Falando de “Chesire”, a parceria com o cantor Kadu é cheia de química e sabe começar e terminar seu ciclo no projeto. Aqui narrando essa entrega ao lado obscuro com uma certa sensualidade e dúvida, é uma canção marcante no projeto. “Bunny and Clyde” mostra o lado obscuro, mas aqui com a raiva e insanidade resultantes de um fim abrupto na vida do eu-lírico. Sem inibições na sua forma de narrar o que sente, Jade entrega uma canção com sentimentos brutos e com poucas metáforas, assim evidenciando o que ela realmente sentiu. É uma faixa muito boa, e também funciona no projeto ao explorar melhor a insanidade mapeada desde o início. “Haunted” condiciona algumas faixa anteriores ao explorar ser aterrorizado por algo que já se foi; ou que deveria ter ido. Uma faixa bem expressiva, mais até que as anteriores, a música se desenvolve mais num sentido de mostrar o lugar doloroso que a mente da artista está nesse momento de “pós-fim”. “No, you\'re not my Jade (interlude)” e “Chaotic” mostram as emoções e o estado psíquico de Jade com mais explicites, aqui com seus comportamentos e os relatos externos mostrando isso. Especificamente “Chaotic” é uma faixa bem interessante, mas parece cair um pouco na mesmice em alguns momentos. Por mais que todas as faixas tenham um certo padrão e saibam se diferenciar, essa em particular tem isso em menor quantidade. “The walking dead” mostra uma parte bem marcada por uma falta de sentimentos, praticamente inerte a eles. Jade expressa a falta disso com referências a anatomia e fisiologia, em hematomas, coágulos, circulação… com a intenção de mostrar o dano de algo psíquico ao seu físico. É uma faixa bem arriscada e poderia seguir caminhos bem difíceis, mas no fim é bem desenvolvida. “Wonder behind the madness” coloca as crises e perdas como um caminho para rever seus próprios sentimentos e trilhar o que deve ser feito por Jade. É também uma canção bem escrita, por mais que se assemelhe um pouco demais com outras (como aconteceu com a já citada Chaotic). “Ending scene” finaliza o disco muito bem, narrando a conformação de Jade com o fim de uma relação e também com o fim de um extensivo momento de melancolia e crise. Aqui mostrando que tudo isso acabou e que deve seguir para algo melhor, a faixa consegue suprir as lacunas ainda abertas no disco. O visual, produzido por Alec Weaver, é muito bonito. A fotografia é bem manipulada com a edição cuidadosa do artista, aqui sendo interessante citar a conectar das páginas com as letras das canções e o bom desenvolvimento do encarte. Por fim, “white roses…” é um disco que evidencia Jade como uma artista que sabe se entregar aos seus trabalhos, também mostrando uma riqueza em suas referências e na forma com que ela as explora.
TIME
Lançado em maio de 2022 (ano 8), \"white roses and trickery, but iʼm not like her\" representa o segundo trabalho de estúdio da artista e compositora Jade X. Renovando seus visuais em comparação às eras anteriores, este álbum pode ser interpretado como uma reintrodução da artista ao cenário musical. Esta abordagem parece ter sido bem-sucedida, considerando o patamar alcançado pela artista após o reconhecimento do público. Liricamente, o álbum se inicia com \"Maze Trick\", uma faixa introdutória que faz referências explícitas ao clássico \"Alice no País das Maravilhas\". Mesmo sendo um diálogo curto inspirado na obra, serve como premissa para a imersão do público na própria loucura da artista. A segunda faixa, \"As the Wonderland Caves In\", aborda a vulnerabilidade da cantora, destacando a fragilidade de suas relações. Esta música, completa em todos os sentidos, revela aspectos pessoais de Jade. O lead single, \"Iracebeth\", destaca-se por sua habilidade única de descrever emocionalmente a personalidade da personagem-título (a Rainha de Copas). A escolha desta faixa como single é justificada pela entrega de versos tocantes e memoráveis. \"Euphemism\" compara o relacionamento atual de Jade X a \"preferir a escuridão\", explorando suas inseguranças. O álbum também apresenta colaborações, como \"Cheshire\", com participação de Kadu, onde ambos confrontam uma tentação comum. \"Bunny and Clyde\" marca uma mudança na narrativa, com Jade entregando-se à loucura que antes era apenas uma tentação. Em \"Haunted\", a cantora descreve sensações aterrorizantes e assombrações emocionais após uma virada na narrativa. Os interlúdios, como \"Drink-eat Me\" e \"No... Youʼre Not My Jade\", desempenham papéis significativos na evolução da história, embora a última pudesse ser mais explorada. A faixa \"Chaotic\" mostra Jade refletindo sobre sua própria jornada e reconhecendo seus erros. \"The Walking Dead\" continua essa narrativa, explorando as partes de si mesma perdidas ou transformadas ao longo do tempo. \"Wonder Behind the Madness\" recupera o fôlego narrativo e avança a história em direção a um possível final próspero. O álbum conclui com \"Ending Scene\", onde a cantora reflete sobre enfrentar seus medos e aceitar sua transformação como um passo crucial para a cura pessoal. Visualmente assinado por Alec Weaver, \"white roses and trickery, but iʼm not like her\" encanta não apenas pela construção narrativa, mas também pela fotografia que acompanha cada passo da cantora, representando eficazmente cada fase da história. Jade X apresenta seu \"magnum opus\" até o momento, demonstrando flexibilidade como compositora. Apesar de algumas descrições excessivas na segunda metade do álbum, sua maestria refinada é inegável, revelando que, embora não se considere perfeita como pessoa, está sempre evoluindo como artista.
AllMusic
\"white roses and trickery, but I\'m not like her\" apresenta-se como uma ruptura em um momento da vida de Jade, um pesadelo moderno desmembrado em uma viagem até seja lá onde ela imagina. Aqui, \"white roses..\" permeia conversas quase improváveis, mas que tem muito o que falar no fim das contas. Ao começar da forma mais cruel possível Jade diz: \"Você é a maior louca aqui\". Em um breve diálogo que poderia ser facilmente visto como um delírio, Jade remonta um momento clássico, ainda que às vezes afunde muito em ideias, talvez essa pretensão seja induzida. É um álbum que Jade cria um grande cenário para si, e para nós, a fim de desenrolar algo nebuloso para ela, e para quem está ouvindo. Jade também foi além em seus ideais artísticos, depois do lançamento do \"Darkness & Light\", um momento íntimo e doloroso movido por letras sutis, \"white roses...\" trouxe um aperfeiçoamento de visão diferente de seu primeiro grande trabalho – ainda que já visto em \"Blackcat\" – a medida que consumimos, somos apresentados a cenários poéticos que poderiam até ser um grande entretenimento em uma ficção, mas aqui apenas acompanhamos uma alma atormentada (e às vezes aventureira). Antes mesmo de termos sido apresentados a esse \"paraíso\", Jade divulgou \"Iracebeth\" como o primeiro capítulo de sua pequena grande história, tão apática quanto cativante, é uma visão agridoce de alguém reprimido o suficiente para aprender a controlar suas dores, mesmo que temporariamente. Todas suas canções são cheias de alguém ainda perdido e frustrado consigo, entendendo aos poucos, mas longe da saída de seu labirinto. Em alguns momentos ela está presa a alguém que sequer a enxerga ainda, em outro ela está entregando-se novamente aos lobos, agora nas mãos de alguém para ela imprevisível e nocivo, mas que toda sua dor (ou parte dela), ainda surge de cicatrizes não curadas. Canções assim podem ser sufocantes, na verdade canções assim são sufocantes, sua válvula de escape aqui está nas alegorias, a viagem do álbum suaviza os gritos em sua maioria, mesmo que sua substancia por vezes se perca junto. Seu Pop denso transforma \"white roses...\" em um grande filme, onde encontramos alguém triste e também raivoso, em \"Bunny & Clyde\", Jade parece gritar contra outra pessoa sem piedade alguma: \"Talvez eu tenha me tornado uma criminosa\", ela canta. \"Não diga que não me reconhece, ao seu lado sempre estive contida\". Mesmo em uma reviravolta cruel, Jade se mostra firme sobre seu momento como vilã. O envolvimento de Jade é claro, mas o trajeto ainda é turbulento, toda sua raiva contida foi solta, ela deveria estar leve, mas agora um peso diferente está em suas costas. É fácil pensar junto de \"Haunted\" em como todos esses fins que te perseguem funcionam, ou \"Chaotic\" que mostra como perder a cabeça por um momento e virar a caça de pensamentos frustrantes para si deve ser. Ela conclui as canções de forma até mesmo mórbida, mas ela não foi a única. Seus interlúdios repletos de ideias quase delirantes não prejudicam o momento de \"white roses...\", mesmo que em sua ausência, o andar do álbum seria igual, Cada momento é uma virada de chave sutil – sua ficção é por vezes densa demais – uma vez que embarcamos, suas nuances se tornam mais palpáveis, assim como o que Jade quis alcançar. A ideia que seguimos é recheada, mesmo que seu fim seja o esperado. Em sua capa Jade aparece correndo – arrisco dizer que num labirinto – os melhores momentos do álbum ainda não são bons quanto ela esperava, ela se livrou de alguns obstáculos apenas para bater de frente com outros, e isso é inevitável, seu grande visual é delicado mas ainda transmite aquela loucura que seguimos até aqui, e não foi por acaso que Alec Weaver seguiu esse caminho, talvez sem ele a percepção do trabalho seria remodelada. Jade não se contenta em se perder em seus pensamentos, mas também não encontrou a verdadeira saída ainda, dada a experiência quase teatral do álbum, talvez seja essa a ideia dele, uma viagem incrível, dolorosa e assustadora, e que teve um fim, apenas para começar algo novamente.